Dia 3 01/07/09


Guincho camping 12.93€

Km 15232
Deixo-me ficar a dormir até mais tarde. A noite de ontem ainda durou até as 02h40, fui a famosa “Gelataria Santini” em Cascais, ao Tamariz onde decorria o festival da juventude e ao barzinho o Deck bar onde 99% das raparigas deixaram-me K.O. Julgo ser a melhor solução quanto mais tarde sair, menor a confusão de carros na marginal e das pessoas a atropelarem-se na entrada do cacilheiro. Mesmo assim, ainda saí cedo cerca das 10h, com o tempo que não deixa o sol espreitar para mim. Vou dizer um ultimo adeus a praia do Guincho, passo pela luxuosa Quinta da Marinha e pela baia de Cascais. Entro na frenética Marginal N6 com um pára e arranca de automóveis, taxistas loucos com os seus clientes, autocarros parados a impedir a minha passagem, e pedestres a meterem-se nas passadeiras mesmo com vermelho para eles.
Não podia deixar de tirar uma foto a praia de Carcavelos que já aquela hora estava apinhada de canalha oriunda de todas as escolas de Lisboa, a fazer uma algazarra como espectadores num estádio a ver um empolgante jogo de futebol.
Ao fundo, o Forte S. Julião da barra, um forte no meio da foz onde de inverno as ondas atingem os 6 metros e conseguem molhar os guardas mesmo nas guaritas mais altas. Fui segurança do Ministro da Defesa, na altura António Vitorino, que à meia noite na passagem de ano 95/96, me chamou para beber uma champanhe e comer uns camarões, e ver o deslumbrante fogo de artificio que explodia nos céus nas duas margens do rio Tejo.



Belém



km15276 4.19L 5.60€

Passagem quase obrigatória pela torre dos descobrimentos onde os turistas na vez de estarem atentos ao guia que estava a explicar o majestoso monumento estavam a olhar para a mota, passei pelos famosos pasteis de Belém e pelo quartel RL2 onde dois policias do exercito, só não me obrigaram a apagar a foto porque já la jurei bandeira.
Ainda com tempo dou voltas pelas marginal, a lembrar dos sítios que ia na altura da tropa. Fico uma hora a espera do barco que me leva a Almada para alcançar a Costa da Caparica, nesse tempo de espera fico a conversar com um bacano com sotaque do barreiro que atravessa todos os dias de barco com a sua mota uma acelera Yamaha, diz-me que já fez uma viagem de mota até a Zambujeira, com mais uma pessoa, e onde com tanta confusão roubaram-lhe a mota.
No centro de Almada meio perdido das informações do bacano, pergunto a um policia que estava nesse preciso momento autuar um veiculo, por indicações que me leve a Costa da Caparica , ao dar as indicações avisa-me pelo menos 3 vezes para não entrar no bairro que fica a caminho, ao passar por ele percebo logo o porque de tanta preocupação, pilhas e pilhas de edifícios amontoados em degradação que mais parece um cenário de guerra, carros sem pneus em cima de quatro tijolos com vidros partidos , lutas de cães com os donos apostarem a dinheiro, pessoas atrás de carros com a seringa espetada no braço e outras tantas a espreitar pela janela como se fossem aranhas a espera de uma mosca na teia .Dirijo-me a alta velocidade dali para fora para chegar a Costa da Caparica.
Costa da Caparica foi a maior desilusão, sem grandes acessos á praia e nenhuma placa com indicações, perco-me 2 vezes em estradas da mata que não me levam a lado nenhum, em cada uma delas faço cerca de 30km para cada lado.
Começo a pensar que a cada km que passa estou mais longe dos problemas do dia a dia, dos stress, da rotina, mas também estou a afastar-me cada vez mais de todas a pessoas que conheço, amigos, família, e que não me podem apoiar. Começo a sentir sensações estranhas de solidão, desamparado, e sem ninguém me poder socorrer,as vezes pergunto-me o que estou aqui a fazer, vou é embora, vou é para a minha casinha. O que me dá força para continuar é as pessoas nos carros saírem da janela com sorrisos, os condutores a acenarem e a buzinar, as paisagens magnificas e sobretudo os sms que recebo a dar-me força para continuar.
Aborreço-me e dirijo-me para a praia do Meco para ser naturista, mas antes ainda paro num dos trilhos que me perdi, num restaurante Gourmett comida toda biológica com preços exorbitantes, mas com o passar da hora e não havendo outro num raio de 30 km tem mesmo de ser, a dona uma tia dos seus 40 e tal anos toda fina, traz-me um creme de ervilhas e um arroz de tamboril hum!! de puxar a orelha. No fim tento pagar por multibanco ao que ela diz que esta fora de serviço, diz-me que desta vez fica por conta da casa, deve ter pensado que era um mendigo com a barba por fazer e com a casa as costas, ou melhor na mota.
Dou uma saltada ate a Lagoa de Albufeira que para os quilómetros que fiz não vale a pena, volto para trás ate ao Meco para ver se vejo umas miúdas, mas com a ventania que se faz sentir não se vê nenhum naturista, farto-me desta costa e ponho-me a andar até Setúbal para saber horários para apanhar o barco para o destinado Alentejo.
Apanho a N10 que para a minha mota mais se parece com uma auto-estrada, e com a inclinação acentuada da serra da Arrábida ganho uma velocidade vertiginosa, que faz com que veja a estrada em bico, com o contador a bater no fim, nos 80km/h, vou pelo meio da estrada para poder inclinar nas curvas, nunca a mota tinha dado tanto, tenho é de ter cuidado para a bagagem não cair nos carros que vêem atrás, esta experiência fazem-me ganhar outro animo, e tempo que dá para chegar ao Alentejo mesmo á noitinha.
Comporta



km 15420 4.41L 5.75€
A calma alentejana, tem um espírito acolhedor nota-se logo nos princípios do Alentejo. Os alentejanos deixam o carro a abastecer para virem falar comigo e outros param só para meter conversa. Entendo agora porque são tão acolhedores, como moram isolados precisam de comunicar. Comporta onde abasteço o deposito da mota e o cherrican, sendo que a partir daqui vai ser kms e kms sem avistar povoações só existe florestação rasteira, onde tenho de levantar as pernas quando vejo uma cobra atravessar a estrada, e vários esqueletos de animais, digno de um filme do velho faroeste.
Já esta a ficar tarde para chegar a Sines, já vejo os últimos raios de sol a oeste. Viro para o parque de campismo mais perto que é o da praia da Galé, onde me confronto com uma estrada de terra batida as ondinhas, que me põe aos tremeliques, e sem fim á vista paro várias vezes a pensar se será este o caminho correcto, e a bichinha a gemer por todo lado, com os parafusos a lutarem para não desapertarem.
A trepa da estrada acidentada compensou, mesmo não existindo mais nada nas redondezas além do campismo com a maior extensão, que já vi ate hoje, onde as tendas mais próximas umas das outras é superior a 100 metros, debaixo de pinheiros mansos. Com uma estupenda praia, com impressionantes falésias em formas de estalactites.
Como não existe vida nocturna nos próximos 20km as pessoas ficam todas pelo bar do parque, onde conheço uma Lisboeta de 27 anos, mãe solteira de uma pequenita toda desenrascada, que já segue as tendências da mãe, não come carne, nem a mãe a deixa ir ao McDonalds, toda em defesa da natureza. Convencem-me a ficar pelo menos parte da manhã para fazer praia, ficamos a falar até ficar tarde para a pequenita. Vou para a tenda escrever a minha aventura desse dia, á luz de uma lanterna cor vermelha, daquelas que se dá a manivela, da minha tia que deve estar a esta hora á procura dela.

2 comentários:

  1. Esta aventura esta cada vez mais emocionante.
    Viste uma cobra atravessar a rua !!!
    Que medo '/..

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