29/06/09 partida para a grande aventura com 50€ no bolso

Segunda-Feira partida as 09h00 com 50€ no bolso, sim nem sei como gastei 600€ em 15 dias só sei que até quarta, dia que recebo vou andar estrada fora talvez a pedinchar, mesmo assim nada me faz desistir...
As pessoas perguntam-me porque vou sozinho nem eu sei bem, talvez a fugir dos fantasmas do passado que desde o inicio do ano me atormentam, talvez para me conhecer a mim mesmo, e com esta viagem, com este caminho longo, tentar ver o longo caminho que vou percorrer na vida...

para saber o fim da viagem esperem que eu chegue...

A prever uma partida molhada

A previsão do tempo não esta favorável vou ter de partir mesmo com chuva.
Hoje experimentei por as mochilas, tenda, colchão, cherican de gasolina e o saco cama na mota vai ser uma viagem difícil.
A mota fica muito pesada e com pouca estabilidade, parece que estou andar numa corda bamba a espera de cair para a esquerda ou para direita, vou ter de reduzir o peso, e a única solução é levar só uma muda de roupa e ter de lavar a roupa todos os dias.
O que torna esta viagem diferente é a mota ser de 50cm3 de cilindrada e com o peso não dar mais de 45km/hora e ter mais de 30 anos, as estradas a percorrer é ser o máximo possível a beira mar, 1º dia partir de Ovar até S.Jacinto passar o barco para a Barra e seguir estrada fora a passar por Mira, Tocha para ficar acampado no 1º dia na Figueira da Foz, 2º dia espero chegar a Peniche mas como são 140 km e a mota de tem parar de hora e hora para arrefecer o motor não sei não , no 3º ou 4º dia é o mais complicado pois vou por Cascais, andar pelo centro de Lisboa para passar o barco no Cais do Sodre- Cacilhas, depois o barco Setubal-Troia para finalmente chegar as estradas do Alentejo, só espero que a bichinha aguente…

Aviso

Foram cortados trechos da historia
Não inclui conversas e relacionamentos com terceiros
Quem está a espera de relacionamentos e historias de amor esqueça
É apenas um blog de viagens

Recomenda-se ler num local calmo e sem distracções, pois contém frases com L7
espero que te faça viajar sem sair da frente do monitor
se alguma frase mexer contigo, por favor comenta

A viagem de um solitário de mota

Dia 1 29/06/09

Partida 9h38
Inicio com 14747km
Atraso-me um bocado na hora da partida, com as despedidas. E porque o peso das bagagens era demasiado para mota, de 3 malas abarrotar passo para 2 quase vazias. Mesmo assim faz balançar a mota que nem uma bailarina.
Ao colocar a tralha na mota nem reparo nos meus dois cães e na minha gata ao meu lado a olharem para mim, pelo olhar da minha gata, já sabe que vou uns dias para fora, e eu sei que ela vai ficar a miar e sem comer nada até eu voltar…
Para me dar sorte começa a chover mesmo na hora da partida, com a bagagem a mota ganhou 40cm para a frente e outros para trás, fazendo com que seja mais difícil de conduzir.
Esqueci-me de dizer que o meu sobrinho veio dizer adeus, e que nem o conseguiu fazer ao olhar para o aparato que ia na mota, aquele momento ficou-lhe gravado para sempre na memória, um dia ainda vai seguir as pisadas do tio.
No caminho até S. Jacinto, junto a ria, lembro-me das dezenas de vezes que já passei por aqui de mota nos fins-de-semana em que vou até a torreira… a sensação de ultrapassar os carros na fila, os picnics, ou simplesmente dar uso a mota, mas desta vez é diferente, vou mais longe…
Dou o meu 1º gole de água já dentro do barco, que ainda sinto o sabor a pasta de dentes. Nem acredito, cheguei mesmo a tempo quando já estavam a levantar ancora onde vinha agarrado moliço e bocados de lodo, para partir para a Barra. No barco vai um Holandês ainda mais maluco que eu, também anda a viajar sozinho, com uma mochila enorme que leva as costas com capacidade de 110L e de bike, uma daquelas baratas do continente e a frente leva outra mochila cheiíssima que mais se parece com uma bola, diz-me que vai até a Figueira, mas pelo tamanho da mochila duvido mesmo que chegue lá.
Praia da Barra, a 1ª vez que acampei longe de casa, sim com apenas 15 anos o outro lado da ria já era muito longe, onde apanhei uma bebedeira que até fui surfar a noite todo nu, velhos tempos em que ainda não tinha responsabilidades. Passo pela costa nova que me faz lembrar os tempos dos campeonatos de skate que levava os meus patrocinados da breakbone a competir, e onde vinham prós de todos os lados.
Ao chegar a praia de Mira onde tinha projectado almoçar, pergunto a um Sr. que estava num tractor a limpar o mato na berma da estrada, pelo caminho até a Figueira mais perto do mar, ele diz que é pela Mata Nacional mas são 40km sempre pelo meio do mato e é só curvas, leve gasolina diz-me ele, não tem bombas de gasolina até lá, e ainda me disse que eu era tolo. Fico a pensar e abro o depósito que está a meio e ainda não dei uso ao cherrican de gasolina, a minha única opção é ir pela Nacional 109. Até a Nacional ainda são uns 7 km por onde passo por duas aldeias com máximo de 20 casas cada, e o mais engraçado é que cada uma delas tem um produto específico a venda nas entradas de suas casas, uma com caixas de morangos e na segunda sacos de batatas, são aldeias muito lindas mas parecem mais do “século passado”.
Ao avistar uma estrada que tem uma seta direcção Figueira da Foz, entro nela julgando ser a 109, mas deparo-me com uma estrada cheia de retalhos rectangulares do tamanho de uma camioneta de varias cores, branco, cinzento e preto, começo-me a rir, isto é que é a Nacional 109, paro de o fazer quando dos rectângulos grandes passa para círculos dos tamanhos dos buracos, com as mesmas cores e cheia de rachas, que me fazem ir aos pulinhos e ficar com dores de costas. Só me apercebo que estou mesmo na 109 quando me farto de ver semáforos de velocidade controlada que não ficam vermelho para mim pois nem aos 50km consigo chegar, e ao entrar na recta da Tocha onde os restaurantes estão com os parques vazios de camiões mesmo sendo na hora de almoço devido a famosa crise. Já Decidi! Já que cheguei tão longe numa manhã e não vou dormir á Figueira pelo menos vou almoçar.

Praia de Quiaios
Km 14841 5L 4.37€
Farto da 109 vejo no mapa, que vai sempre colado ao guiador e que de vez em quando dou uma olhadela mesmo sem precisar por o pé no chão, que em Quiaios tem uma estrada até a Figueira mesmo juntinho ao mar, atesto o depósito e pergunto a funcionária Dona Teresa, casa dos 50, que tem colado num crachá no seu casaco de malha o seu nome, por essa estrada, ao que ela me diz com uma cara séria para não ir que é um caminho de cabras com 3km onde passa só um jipe, cheio de precipícios que só o nome já mete medo, “enforca cães”, outros 2 homens metem-se na conversa, um deles com uma Sachs diz que de mota se faz bem, ao que o outro me diz que de vespa é mais difícil de controlar para eu não arriscar, ficámos ali a discutir até que eu digo, vou ver a praia e o caminho e logo decido se vou ou não. Depois de um ano, que na minha cabeça tinha uma doença terminal e vastou o psicólogo dizer que isso era imaginaçao da minha cabeça para passar e dizer que estava com uma depressao, e a minha namorada deixar-me. Tb tive vontade de deixar-me cair, mas como nesta frase digo quero ver o que a vida me reserva.
Quando a vida esta a beira de um abismo, ou simplesmente deixamo-nos cair, ou seguimos o resto da viagem, decidi continuar o resto da viagem e descobrir o que a vida ainda me reserva.
Ao chegar a praia recordo que já cá estive uma vez. É uma praia junto a um monte onde fazem saltos de parapente dos penhascos e aterram na areia. Decidido ver o tal caminho “enforca cães”, mas até lá, é em ruas com casarões com vistas para o mar onde em algumas tenho de levar a mota a pé e sempre em 1ª que até deixo cair algumas tralhas com a inclinação que faz, antes mesmo de chegar ao tal caminho aparece um guarda-florestal de jipe e diz que esta estrada não tem saída até a Figueira para voltar para trás, parece que adivinhou a minha intenção. Mesmo assim depois de o jipe ter ido embora vou mais um pouco, quando dou por mim estou num caminho de brita cheio de rasgos pela chuva onde a largura mal cabe a mota e vejo as ondas a bater nas rocha mesmo debaixo de mim, sempre a subir, a mota perde a força e só tenho uma opção. Ao virar a roda entra num dos rasgos e sem conseguir segura-la vejo me quase a dar cambalhotas com a mota ou pior, não conseguir sair do rasgo e ir até fora da estrada e cair no mar a uns 200 metros nas rochas que estão inclinadas para mim como se estivessem a minha espera. Esquece já tive aventuras por hoje, penso para mim, vou voltar pelo mesmo caminho até a 109, desfaço-me do susto ao ver a maior concentração de vespas numa só vila, nos campos, a passear, ou paradas a frente das casas dos seus donos, até a minha bichinha fica com um tilintar diferente no motor parece que esta a cantar para as suas parceiras. Hoje compreendi que não podemos ir sempre pelo caminho que queremos, se não for sempre a beira-mar vou pela 109, ainda existem caminhos piores que ela.
No café que almocei na Figueira da Foz o dono deu-me uma boa notícia depois de passar a ponte a estrada é sempre junto ao mar até á Nazaré, e boas estradas. Ele só não me disse que até chegar a praia da Vieira, tinha que percorrer cerca 15km na 109 a chover com piso escorregadio, no meio de camiões, estar a espera de ver quando ia ficar entalado, a passarem por mim com uma bolina que mal aguentava o guiador. Acontecer um acidente a minha frente onde um camião se despista e corta as duas faixas e tenho de ficar 5 minutos debaixo de chuva e 45 minutos numa lavagem automática até acalmar a chuva. Sentir a roupa molhar e a secar por 2 vezes numa IC sem casas ou arvores para me abrigar e com os ventos a fustigar.
Mas ainda bem que ele falou dessa estrada, deve ser das mais belas de Portugal com cerca de 30km com ciclo via no meio da natureza com vista para o mar, e a sentir na narinas um suave aroma a camarinhas, pelo meio encontro das mais bonitas e desconhecidas praias por serem escondidas por arribas, onde daqui a uns anos deve ser o novo Alentejo ou ate mesmo o novo Algarve. Até aqui a sensação da chuva é diferente, sentir as gotículas a passearem pela face até chegarem aos lábios e sentir o seu sabor doce.
Na Nazaré vou primeiro ao Sitio onde se tira boas fotos panorâmicas á praia lá em baixo, mas decido não acampar aqui faz lembrar outros tempos, por isso faço mais 10 km e acampo em S. Pedro de Moel mas para descobrir o caminho que estava meio escondido pela vegetação, ou por já estar meio cansado perco-me 2 vezes e a sentir a ficar escuro devido as sombras das arvores.
No camping de S. Martinho o guarda ao ver-me viajar sozinho propõe-me colocar num sítio junto a uma das tendas só com raparigas, disse-lhe logo, isso é que era. Mas ao chegar ao espaço que me era destinado percebi logo que deviam ser escuteiras pelas idades, lobitas. Elas estavam em algazarra porque o banho de água quente terminava as 19h30, vou á mochila sacar do telemóvel e vejo que ainda falta 15 minutos mas nem dei importância. Montei a tenda e percebi logo a razão de ela ter sido tão barata 9.90€ no pingo-doce escolhi uma vermelha ou melhor vermelha transparente para ser mais exacto. Fui passar o corpo por água e ao entrar no balneário vem logo uma senhora dizer:

Sra. Agora só há agua fria, já passou a hora são 19h34
H. É que cheguei mesmo agora ao parque!
Sra. Tens senha?
H. Não, também não sabia que era preciso
Sra. Vai aquele chuveiro ali ao fundo e toma banho rápido
Pensei para mim que Sra. amável, ligo a água e estava mesmo quente. Ponho champô e duche (2 em 1) vou para debaixo do chuveiro e mando logo um salto ao sentir a água, que escorria pelos buracos do chuveiro, gelada, FOGO! A Sra. enganou-me! Tinha de tirar a espuma passei-me por água mesmo ela sendo gelada que até doía os ossos. Ao acabar de me vestir ouço a Sra. Lá fora aos gritos.
Sra. Já acabaste?
H. Já obrigado pelo banho frio, pensei eu, mas apenas disse obrigado.
Ainda ouvi ao longe a Sra. a dizer de nada!
Não dá para estar na tenda com o calor que se faz sentir, e mesmo estando montada apenas à 20 minutos. Não existem sombras neste parque, o que faz com que até escurecer tenha de ficar cá fora, sento-me no pisa-pés da mota e começo a cozinhar hoje vai ser massa e batatas com frango e courgettes e uma sopa de alho francês (instantânea claro). Só agora percebi que não são escuteiras, é uma turma da escola e a Professora nem é nada má, é alta, loirinha e pelo ar é mais nova do que eu, só que esta toda atrapalhada a manter a canalha sossegada que ainda nem olhou para mim, uma única vez.
Á minha frente esta uma rapariga sempre a olhar para mim também não é má, está num bungalow em madeira que deve ser da família á vários anos, todo bem cuidado, até um jardinzinho têm rodeado por sebes, está com o marido e um filho com cerca de dois anos, acabou de olhar outra vez, deve estar farta da rotina com o marido, todos os anos vir para o mesmo sitio passar férias, olha para mim sozinho de mota, deve estar com pensamentos de liberdade e aventura, pensamentos de uma mudança.
Depois de lavar a loiça coloco os phones e ponho-me a ouvir reggae e a contemplar o pôr-do-sol a deitar-se sob a lagoa, e a ler um livro que elegi para estas férias “yoga para Nervosos”, o que me faz pensar seriamente entrar para a yoga, e que não se deve dar resistência e luta a “coisa”, nome que se dá aos sofrimentos e desconfortos psicossomáticos que envolvem corpo e mente. Farto-me de ouvir o apresentador de um circo que esta mesmo colado ao campismo “ Meninos e meninas vai dar entrada o trapezista Nandu” ou “A Foca amestrada Danni com os arcos”.
Decido ir ao centro antes que mude de profissão e vá para apresentador de circo, vou a pé e ao sair do campismo, mesmo em frente tem uma entrada para a praia, o som das ondas a roçar nas pedrinhas hipnotiza-me, resolvo ir até a beira da água, chama-me atenção ao longe na escuridão da noite, no areal formas brancas a correr para um lado e pretas para o outro, aproximo-me mais e deparo com duas equipas a jogar o que julgo ser futebol sem bola mas com mais regras, ao som de um apito. Se já cheguei até aqui vou andar o resto (da meia lua que forma a praia) á beira da água até ao centro. Perto da marginal reparo numas ruelas em calçada portuguesa que me leva até a zonas dos bares, mas que acabam logo a seguir, resolvo investigar o resto das ruelas ao que me apercebo que dois indivíduos vêm atrás de mim, viro em varias ruelas para os despistar até conseguir encontrar novamente a marginal, entro na primeira esplanada que encontro, com uma mesa vaga, passam por mim a olhar com um ar de mafiosos, tenciono ficar o máximo possível na esplanada ate eles se cansarem, começo a escrever o diário. Olho para o relógio, o que faz me admirar é como tempo voou, já são 01h47,o corpo começa a dar sinais de cansaço devido a viagem em cima daquele banco que me faz sofrer das costas.

Dia 2 30-06-09





S Martinho camping 6.70€

Km 14997 5.10€
A partir das 06h da matina já não se consegue pregar olho com a claridade, tento adormecer mas em vão. Esta noite tive um sonho parecia mesmo real, em que estava no meio de uma savana, deve ter sido dos grunhidos dos elefantes, leões e zebras do circo. Saio da tenda as 08h para me deparar com uma nuvem no horizonte que deve ter quilómetros de comprimento, até faltar a vista de norte a sul, penso para mim que ainda não é desta que vou dar uso aos calções. Ao desmontar a tenda ouço que o tema de conversa da turma sou eu, falam que já me vou embora, que não conseguiam acampar sozinhos e ainda por cima de mota, e também ouço a professora que até aqui não me tinha ligado nenhuma, dizer que deve ser complicado andar a montar e desmontar a tenda todos os dias, com uma troca de olhar despeço-me dela.
Sigo por Foz do Arelho, mais uma daquelas praias magnificas que o rio desagua no mar ideal para canoagem, e lá indicam-me que para as Caldas da Rainha tinha de dar uma grande volta, mostro no meu mapa uma estrada junto a foz, ao que eles indicam ser muito complicado tinha de estar sempre a parar e perguntar as pessoas, não lhe disse mas é mesmo isso que eu preciso, falar.
Passo por Óbidos, com o seu castelo sempre em pano de fundo até quilómetros de distancia, ainda noto que as velas em canvas dos moinhos de outrora foram trocadas pelas pás de fibra das torres éolicas. Onde me engano numa placa que indicava Peniche e não havendo outra, entro no IP6, estrada proibida a motociclos, não podendo desfazer do erro e ir em contramão sigo sempre pela berma, sempre agarrar o guiador com força pois os carros passam por mim a alta velocidade que me faz abanar.O meu medo é aparecer a polícia e me multar, ou pior apreender o veículo, ainda faço 4km para sair na primeira saída que encontro mesmos sendo uma localidade desconhecida e sem placas a indicar Peniche, sigo a minha intuição de quem pensa que sabe orientar-se pelo sol, sigo para a esquerda até que dou conta que estou 6km a sul de Peniche, tenho de voltar para trás não posso perder Peniche.
O passado faz alterar o futuro,
e o futuro consegue alterar o passado?
Peniche faz-me lembrar uma pessoa, tenho medo de ter uma recaída ao ver certos sítios, mas ao passear por Peniche concluo que os sentimentos de outrora mudaram, Peniche já não me faz pensar dessa maneira, os sentimentos do passado alteraram…
Logo que entro nos arredores de Peniche já sinto o espírito do surf, passam por mim carrinhas atafulhadas de pranchas acenar-me, miúdas com cabelos compridos, com calção a rapaz e prancha na mão, o cheiro refrescante, e que me lembra velhas histórias, da cera para as pranchas wax.
A primeira praia que vou é a lendária “Super tubos” que hoje as ondas nem fazem um micro tubo, os surfistas não saem dos seus carros, são capazes de ficar horas e horas a espera que o mar levante. É uma boa oportunidade para mim, os grupos de surfistas concentrados a beiras dos seus “pão de forma” começam a falar comigo, a dizer que a mota era muito louca e a perguntar se andava a viajar. Fico lá ainda um bom bocado, até me libertar da camisa de força que era não poder comunicar durante a viagem, para ir ver as restantes praias de Peniche antes de virar para sul. Outra praia que adoro em peniche é o baleal onde tem varios surf house até um surf castle.

Santa Cruz

Km 15128 5.76
Fui a Santa cruz com intenção de almoçar, dei voltas e voltas e não encontro nenhum restaurante com preços acessíveis, decido ir a um restaurante recomendado por dois polícias, que me mandaram a boca que se não era muita carga para a mota.
No restaurante a menina confunde-se o com a dose e meia dose, só sei que no fim só pago meia dose de bacalhau com natas.
Em Ericeira paro em ribeira d´ ilhas, praia com surf camping onde acolhe campeonatos de surf e festivais. Tiro duas horas da viagem para ir a banhos e estender-me ao sol para tirar o bronze a trolha devido a conduzir de t-shirt.
Com uma vista para uma arriba onde um trilho de madeira teima acompanhar até perder de vista, contemplo-me a ver grandes manobras de surf, com a enorme nuvem por trás no horizonte. Pelos quilómetros que já fiz essa nuvem deve ter a extensão de Portugal e esta prestes a chegar a costa, decido partir antes que comece o nevoeiro ou mesmo chuva. Antes de arrancar ainda encontro um velho e amigo surfista fornecedor da element, onde todos os anos me vinha visitar mesmo não querendo nenhuma peça. Depois da Ericeira ainda é um esticão até apanhar outra estrada a beira-mar, só em Azenhas do mar, já perto de Sintra. Até lá tenho de ir a comer pó dos carros na N247. A cinta que me protege das dores de costas esta a perder o efeito, para acalmar um pouco a dor, de vez em quando os condutores que vêem atrás de mim apanham-me em andamento a fazer flexões no guiador, a estalar o pescoço e abanar os braços, até estou aguentar bem a viagem, também devido a preparação do ballet (nome que chamo ir ao ginásio).
Fico de boca aberta com as ondas que estão a quebrar na Praia Grande mesmo no inside, isto é que é qualidade de vida, digo eu para mim, sem ainda reparar na areia onde estavam centenas de raparigas jeitosas, a maior concentração desde o começo da aventura. Mas tenho de partir ainda tenho de chegar ao guincho que é o parque mais perto do centro de Lisboa. Até lá sinto a minha bichinha a fazer o maior sofrimento da vida dela, nas vertiginosas subidas e curvas da serra de Sintra, as sombras, as arvores centenárias as curvas, são paisagens dignas do filme de terror “Acidente na estrada de Sintra”. Ao passar pelo cabo da Roca o nevoeiro abate-se sobre mim, que mal consigo ver as curvas a minha frente, nem os carros a mim. Fico no orbitur do Guincho, que esta parcialmente vazio, estou com azar ainda não vai ser desta que uma moça vai passar creme para as dores de costas. As únicas pessoas que habitam aqui fazem parte do novo conceito de férias que esta em voga, as Auto caravanas. Um deles enquanto preparo e janto, desta vez arroz de tomate e salsichas fica a falar comigo, qual seria o assunto que ele vinha propositadamente falar comigo. Reformado da Armada onde era mecânico. Percebe tudo de vespas tem uma 125, fica a falar até escurecer quando se lembra que a mulher esta a espera e que o vai matar. Aproveitando que ele foi embora, lavo a loiça e tomo banho, para ir até a noite de Cascais. Onde a noite esta bastante fraquinha a primeira paragem é na gelataria “Santini o melhor gelado do mundo” titulo de um jornal datado de 1962 que esta pendurado numa parede, fico a espera na fila uns 10 minutos, ao por na boca o sabor do cone de morango e meloa sabe mil vezes melhor do que esperava, dá a sensação de estar a comer do próprio fruto, só a bolacha fica a desejar podia ser melhorada. Enquanto delicio o gelado meto conversa com duas raparigas que estão na fila e indicam que a noite ali perto era no Tamariz. Acabo de comer o gelado e meto-me de mota na louca marginal até ao Estoril, onde parece que estou na pista do Mónaco, dou voltas e voltas e não encontro os bares, até que um taxista me informa que hoje estava fechado, viro a esquerda para ir pelo menos ao casino do Estoril. No jardim mesmo em frente do casino dei de caras com um campeonato de bmx, diversos bares na relva , tendas com demonstrações e um aglomerado de cabeças a olhar para um ecrã gigante onde esta a dar o filme “Wallie” onde um rapaz e uma rapariga que pertencem a organização dizem-me que é a semana da juventude, reparam no meu penico (nome que chamo ao capacete) e conto-lhes a minha viagem, perguntam se quero ir com eles dar uma volta ao parque e oferecem-me pipocas, sumo, e vários objectos relativo a varias marcas. Mais para

o fim da noite vou até ao Deck bar onde fico todo desorientado com tanta menina gira, talvez por terem mais posses para comprarem roupinha da moda e irem todas as semanas ao cabeleireiro e ao tratamento de pele. Dos pólos dos rapazes saem aromas refrescantes, o meu é bem diferente é mais forte tenho entranhado na roupa o aroma agressivo a gasolina...

Dia 3 01/07/09


Guincho camping 12.93€

Km 15232
Deixo-me ficar a dormir até mais tarde. A noite de ontem ainda durou até as 02h40, fui a famosa “Gelataria Santini” em Cascais, ao Tamariz onde decorria o festival da juventude e ao barzinho o Deck bar onde 99% das raparigas deixaram-me K.O. Julgo ser a melhor solução quanto mais tarde sair, menor a confusão de carros na marginal e das pessoas a atropelarem-se na entrada do cacilheiro. Mesmo assim, ainda saí cedo cerca das 10h, com o tempo que não deixa o sol espreitar para mim. Vou dizer um ultimo adeus a praia do Guincho, passo pela luxuosa Quinta da Marinha e pela baia de Cascais. Entro na frenética Marginal N6 com um pára e arranca de automóveis, taxistas loucos com os seus clientes, autocarros parados a impedir a minha passagem, e pedestres a meterem-se nas passadeiras mesmo com vermelho para eles.
Não podia deixar de tirar uma foto a praia de Carcavelos que já aquela hora estava apinhada de canalha oriunda de todas as escolas de Lisboa, a fazer uma algazarra como espectadores num estádio a ver um empolgante jogo de futebol.
Ao fundo, o Forte S. Julião da barra, um forte no meio da foz onde de inverno as ondas atingem os 6 metros e conseguem molhar os guardas mesmo nas guaritas mais altas. Fui segurança do Ministro da Defesa, na altura António Vitorino, que à meia noite na passagem de ano 95/96, me chamou para beber uma champanhe e comer uns camarões, e ver o deslumbrante fogo de artificio que explodia nos céus nas duas margens do rio Tejo.



Belém



km15276 4.19L 5.60€

Passagem quase obrigatória pela torre dos descobrimentos onde os turistas na vez de estarem atentos ao guia que estava a explicar o majestoso monumento estavam a olhar para a mota, passei pelos famosos pasteis de Belém e pelo quartel RL2 onde dois policias do exercito, só não me obrigaram a apagar a foto porque já la jurei bandeira.
Ainda com tempo dou voltas pelas marginal, a lembrar dos sítios que ia na altura da tropa. Fico uma hora a espera do barco que me leva a Almada para alcançar a Costa da Caparica, nesse tempo de espera fico a conversar com um bacano com sotaque do barreiro que atravessa todos os dias de barco com a sua mota uma acelera Yamaha, diz-me que já fez uma viagem de mota até a Zambujeira, com mais uma pessoa, e onde com tanta confusão roubaram-lhe a mota.
No centro de Almada meio perdido das informações do bacano, pergunto a um policia que estava nesse preciso momento autuar um veiculo, por indicações que me leve a Costa da Caparica , ao dar as indicações avisa-me pelo menos 3 vezes para não entrar no bairro que fica a caminho, ao passar por ele percebo logo o porque de tanta preocupação, pilhas e pilhas de edifícios amontoados em degradação que mais parece um cenário de guerra, carros sem pneus em cima de quatro tijolos com vidros partidos , lutas de cães com os donos apostarem a dinheiro, pessoas atrás de carros com a seringa espetada no braço e outras tantas a espreitar pela janela como se fossem aranhas a espera de uma mosca na teia .Dirijo-me a alta velocidade dali para fora para chegar a Costa da Caparica.
Costa da Caparica foi a maior desilusão, sem grandes acessos á praia e nenhuma placa com indicações, perco-me 2 vezes em estradas da mata que não me levam a lado nenhum, em cada uma delas faço cerca de 30km para cada lado.
Começo a pensar que a cada km que passa estou mais longe dos problemas do dia a dia, dos stress, da rotina, mas também estou a afastar-me cada vez mais de todas a pessoas que conheço, amigos, família, e que não me podem apoiar. Começo a sentir sensações estranhas de solidão, desamparado, e sem ninguém me poder socorrer,as vezes pergunto-me o que estou aqui a fazer, vou é embora, vou é para a minha casinha. O que me dá força para continuar é as pessoas nos carros saírem da janela com sorrisos, os condutores a acenarem e a buzinar, as paisagens magnificas e sobretudo os sms que recebo a dar-me força para continuar.
Aborreço-me e dirijo-me para a praia do Meco para ser naturista, mas antes ainda paro num dos trilhos que me perdi, num restaurante Gourmett comida toda biológica com preços exorbitantes, mas com o passar da hora e não havendo outro num raio de 30 km tem mesmo de ser, a dona uma tia dos seus 40 e tal anos toda fina, traz-me um creme de ervilhas e um arroz de tamboril hum!! de puxar a orelha. No fim tento pagar por multibanco ao que ela diz que esta fora de serviço, diz-me que desta vez fica por conta da casa, deve ter pensado que era um mendigo com a barba por fazer e com a casa as costas, ou melhor na mota.
Dou uma saltada ate a Lagoa de Albufeira que para os quilómetros que fiz não vale a pena, volto para trás ate ao Meco para ver se vejo umas miúdas, mas com a ventania que se faz sentir não se vê nenhum naturista, farto-me desta costa e ponho-me a andar até Setúbal para saber horários para apanhar o barco para o destinado Alentejo.
Apanho a N10 que para a minha mota mais se parece com uma auto-estrada, e com a inclinação acentuada da serra da Arrábida ganho uma velocidade vertiginosa, que faz com que veja a estrada em bico, com o contador a bater no fim, nos 80km/h, vou pelo meio da estrada para poder inclinar nas curvas, nunca a mota tinha dado tanto, tenho é de ter cuidado para a bagagem não cair nos carros que vêem atrás, esta experiência fazem-me ganhar outro animo, e tempo que dá para chegar ao Alentejo mesmo á noitinha.
Comporta



km 15420 4.41L 5.75€
A calma alentejana, tem um espírito acolhedor nota-se logo nos princípios do Alentejo. Os alentejanos deixam o carro a abastecer para virem falar comigo e outros param só para meter conversa. Entendo agora porque são tão acolhedores, como moram isolados precisam de comunicar. Comporta onde abasteço o deposito da mota e o cherrican, sendo que a partir daqui vai ser kms e kms sem avistar povoações só existe florestação rasteira, onde tenho de levantar as pernas quando vejo uma cobra atravessar a estrada, e vários esqueletos de animais, digno de um filme do velho faroeste.
Já esta a ficar tarde para chegar a Sines, já vejo os últimos raios de sol a oeste. Viro para o parque de campismo mais perto que é o da praia da Galé, onde me confronto com uma estrada de terra batida as ondinhas, que me põe aos tremeliques, e sem fim á vista paro várias vezes a pensar se será este o caminho correcto, e a bichinha a gemer por todo lado, com os parafusos a lutarem para não desapertarem.
A trepa da estrada acidentada compensou, mesmo não existindo mais nada nas redondezas além do campismo com a maior extensão, que já vi ate hoje, onde as tendas mais próximas umas das outras é superior a 100 metros, debaixo de pinheiros mansos. Com uma estupenda praia, com impressionantes falésias em formas de estalactites.
Como não existe vida nocturna nos próximos 20km as pessoas ficam todas pelo bar do parque, onde conheço uma Lisboeta de 27 anos, mãe solteira de uma pequenita toda desenrascada, que já segue as tendências da mãe, não come carne, nem a mãe a deixa ir ao McDonalds, toda em defesa da natureza. Convencem-me a ficar pelo menos parte da manhã para fazer praia, ficamos a falar até ficar tarde para a pequenita. Vou para a tenda escrever a minha aventura desse dia, á luz de uma lanterna cor vermelha, daquelas que se dá a manivela, da minha tia que deve estar a esta hora á procura dela.

Dia 4 02/07/09



Galé camping 6.45€
Tiro a manhã para mandar uns mergulhos na praia privativa do parque, visto de baixo as falésias em forma de estalactites parece que ganham vida, a crescerem em direcção ao céu, como se precisassem de subir para respirar.
Como combinado a Lisboeta aparece com a sua filhota de 4 anos que para a idade está bastante desenvolvida, alias bastante independente. Com pena minha tenho que as deixar depois do almoço para zarpar ainda mais para sul.
Depois de onze anos a namorar já nem sei o que é ser livre, sem namorada, já nem sei como se garanha uma rapariga vai ser uma nova descoberta
Leveza de Voar
só sei que me sinto livre que nem um passarinho sem preocupações, sem algemas
A partir de Sines as praias são-me familiares, como para qualquer português, não é necessárias apresentações para a famosa Costa Vicentina.
Percorrer estas estradas de mota que já as conheço de cor é totalmente diferente, consegue-se sentir mais a rugosidade da estrada como se estive a tocá-la, e em velocidade reduzida dá para sentir os cheiros mais intensamente, criar histórias sobre as formas como uma arvore cresceu, ou de uma casa destruída no meio de um monte, até dá para ouvir o cantarolar dos camponeses a trabalhar no meio dos campos, sentir o vento abanar a t-shirt e acariciar a face.
E como se eu fize-se parte da paisagem, em união. A Vivê-la….
Ainda faço uns quilómetros, sob o sol escaldante sinto a fritar os braços, ainda por cima tive dias e dias para comprar uma long-sleve para proteger das queimaduras e nunca me lembrei. Sem grandes paisagens até chegar a Sines onde a água do mar é aquecida pela central termoeléctrica em alguns pontos das praias. A partir de Sines é sempre a beira mar S. Torpes, Porto Covo, Ilha do Pessegueiro e a praia do Malhão.
Praia do Malhão onde existem inúmeras Prainhas ao longo de pequenas falésias onde ficam acampadas muitas auto caravanas, e consegue-se ir a todas as praias pelo meio de trilhos em areia onde se formou pequenas dunas. Num desses trilhos que tento ir com a velocidade um pouco rápida para não enterrar, a mota com os seus pneus cheios escorrega e caiu de lado com a mota por cima de mim, felizmente não sofro nada, nem a moto, devido a bagagem ser larga que aguentou com o peso, sinto-me é todo sujo de areia.
Vila Nova de Mil fontes onde tem belas praias onde não posso deixar de ir depois de montar a tenda, onde a água do rio esta a uma boa temperatura, onde só saiu da agua já a tardinha.
Para ter pouco peso na mota, trouxe poucas mudas de roupa umas delas são os boxers só trouxe dois tenho de estar sempre a lavar, por isso existe dias que tenho mesmo de passar sem eles, hoje vai ser mais um desses dias. Ao preparar o jantar é que noto que com a queda da mota partiu o fogão a gás, vou ter de ir jantar fora.Um ano antes ofereci um anel de noivado, numa viagem mais se parecia com uma lua de mel, passado um ano com promessas de casa e nome para os filhos aqui estou eu só, mas ainda bem que assim foi, foi mais uma etapa para poder evoluir
A Viagem mais marcante de sempre.
Vou a um restaurante famoso pelo seu porco secreto, e pelo peixe grelhado. É estranho ir a um restaurante jantar sozinho as pessoas ficam a olhar para nós. Mas também foi a andar sozinho nesta viagem que aprendi como realmente sou, aprendi como reajo a falar com as pessoas. A descoberta de o que eu posso oferecer ao outro, acaba sendo uma descoberta para mim também, fora do meu mundo, como desembaraço sozinho com os problemas que surgem. Saber que minha vida é esta, mas pode ser diferente. Andar sozinho tenho menos distracções e posso prestar atenção naquilo que acontece a minha volta e dentro de mim. Remete a uma reflexão existencial, a estar mais presente, centrado. Sozinhos os nossos instintos ficam mais apurados como auto-defesa, consigo perceber as situações, que acompanhado não notava, entender gestos, os tiques, como as pessoas falam, consigo perceber como elas se sentem. . É bom quando se consegue ir além do medo.
Isto faz-me lembrar a minha mãe, antes de eu partir disse que eu podia levar a minha carrinha que tem espaço para a tralha toda, ou até já desesperada por eu ir de mota tao longe, já queria oferecer a auto-caravana dela para eu trazer, mas acho que as viagens hoje em dia são superprotegidas, as pessoas se armam, querem levar todo seu conforto. Basta marcar as férias para começar a corrida atrás de uma acomodação com TV, ar-condicionado e frigobar. Nada contra a mordomia, o único problema é tornar a viagem um prolongamento da vida quotidiana. As pessoas viajam para descansar, se divertir, não para encontrar o desconhecido ou encontrar a si mesmas. Ninguém quer sair da zona de conforto, é cada vez mais dificil se soltarem ao risco, pisar a linha.“É por isso que viajamos para lugares distantes. Saibamos disso ou não, precisamos renovar nós mesmos em territórios frescos e selvagens. Precisamos ir para casa passando por terras estranhas"...
Nesta época ainda esta pouca gente, nem parece a Vila Nova de Milfontes que conheço de Agosto, mas tirando o Tamariz foi onde encontrei mais gente, pena não poder ficar mais tempo em cada sitio que passo. Ficando pouco tempo em cada terra não da para conhecer as pessoas, só da para dizer um Olá e um Adeus e um trocar de olhos.
Um local daqui diz-me que todos os anos é igual conhece pessoas, de um dia, de uma semana, ou quinze dias no máximo, que depois nunca mais as vê. Já esta a ficar habituado, mas algumas ficam marcadas para sempre.
Não havendo grande noite de bares a única opção é ir para a praia onde o som saído das colunas é trocado pelo som de um djambé. No inicio da madrugada tenho de ir descansar para a tenda, que já nem fechos tem, é o que faz comprar a 9,90€

Dia 5 3-07-09

Vila Nova de Milfontes camping 9.34€
Hoje em dia as raparigas não querem saber de amor, só querem ser ricas só querem saber de dinheiro, arranjam rapazes ricos, a espera que eles sejam a sua luz ao...
Uma luz ao fundo do túnel


Esta noite não preguei olho, farto de dar voltas e voltas no saco cama, saio para começar a fazer o processo que esta a ficar mecânico. Embrulhar a tenda, por tudo nas sacolas, apertar com elásticos á mota. Mesmo assim ainda fico uma hora a aguardar que abra a recepção, acordado desde as 07h00 da manhã, de não conseguir adormecer desde as 04h00 com um pesadelo.
Sonhei com uma luz ao fundo do túnel, acordei ao ver que as luzes eram de um camião.
Hoje vou visitar a praia da Zambujeira, praia da Amália e Odeceixe. Mas o que poucos sabem é de um autêntico jacuzzi natural, situado na Praia das Furnas, só que para chegar lá ainda tem de se fazer umas centenas de metros através de silvas e mato denso, o que me faz desistir da ideia, pois ainda me furtavam as trouxas da mota. Prefiro ir até a praia de Almograve primeiramente de passar pela Zambujeira do Mar.
Mas o que mais receava sucedeu mesmo antes de lá chegar, num buraco a mota manda um salto e cai com o peso todo na roda de trás fazendo entortar o eixo e rebentar o pneu e por pouco não caí uma segunda vez. Tento tirar a roda mas com o eixo torto a roda não sai, vejo-me no meio de uma estrada com descampados dos dois lados e sem nenhuma casa à vista, são 10h00 e é raro passar um carro, a única solução é empurrar a mota até encontrar uma casa. Ainda empurro 2 km sob um sol que aquela hora já se torna insuportável, até encontrar uma casa de férias com piscina e campo de ténis. Quem fosse proprietário tinha no parque um jipe BMW, e uma carrinha Mercedes. Pensei para mim pessoas de nota de certeza que não me vão ajudar. O dono abre-me a porta com pijama vestido e a esfregar os olhos, peço-lhe ajuda ao que ele diz para aguardar um pouco, quando sai, traz um martelo e uma caixa de ferramentas, e ajuda-me a endireitar o eixo e a mudar o pneu. A sua mulher traz-me um sumo de laranja e um croissant misto, que devoro mesmo com as mãos sujas de óleo e com sangue de um pequeno corte, com fome de não ter tomado o pequeno-almoço. Ao trocar a roda para ir embora é que noto que o pneu sobresselente está vazio, que falha não ter visto isso em casa, ainda traz uma bomba de encher o seu barco de borracha, só que o bico é diferente. O dono da quinta, que mora em Leiria e vem sempre que pode para o Alentejo, leva-me de carro a uma bomba que ainda fica a uns 10km, pelo caminho ainda fala da sua vida e faz umas paragens de rotina diária ir buscar o jornal e comprar pão. De volta a casa, a mulher ainda oferece o almoço pois já passa das 13h, mas não posso aceitar pois ainda tenho muito caminho até Sagres. Ao por a carga novamente reparo que as sacolas da roupa e da comida ficaram cheias de óleo de terem estado debaixo da mota enquanto estivemos a martelar o eixo.
Sem nenhum pneu sobresselente vou a praia da Zambujeira, mas sem puder aventurar nalgumas praias com acesso de terra batida, como a praia da Amália, com medo de rebentar outro pneu.
Ao chegar a Odeceixe, em cima de uma falésia encosto na berma da estrada, para tirar uma foto lá para baixo ao rio onde se encontra um casal a andar de canoa. O capacete cai-me com o vento pela falésia abaixo, para ficar preso numas silvas a dois metros abaixo de mim, sem ter outro capacete o único remédio é ir buscá-lo, ao descer com cuidado os meus ténis escorregam na brita da encosta e vou a escorregar uns três metros pelo meio das silvas. Sinto-me todo picado e lá em cima a mota a trabalhar e a máquina pronta a disparar, quem passar por lá agora só basta pegar e ir embora, nos dez minutos que levo a subir só penso no dia de azar que estou a passar, talvez seja de não ter pregado olho.
Para descontrair sento-me numa esplanada com vista para a praia de Odeceixe a saborear um suco de melancia e uma sandes de pão Alentejano com delícias do mar, e lembrar-me dos dias que passei ali à uns anos atrás a fazer Kayaksurf. Até Sagres ainda falta uns 60km, sinto o barulho da mota a morrer e a chiar por todos os lados, faço um desvio até a praia Arrifana que é a subir e reparo que a mota em velocidade reduzida abana-se toda, tem os dois pneus empenados. Será que chego ao destino (Lagos…)?
Finalmente Sagres! Já vejo ao longe o Forte, um ponto principal da minha viagem. Na última rotunda antes do forte ao dar a curva, a mota com o eixo e as rodas empenadas foge-me e se não ponho o pé ao chão ia parar debaixo de um carro. Dou por terminada a minha viagem, é muito arriscado ir até Lagos com a mota assim. Nos últimos 100 metros antes de imobilizar a mota em Vila do Bispo, o mapa que até aqui aguentou sempre junto do guiador, decide-se rasgar, sabe que é o fim da viagem….
Sagres km 15720

A loucura da noite de Lagos

Acabou a viagem, mas não acabou a história para o blog, a cada minuto a cada segundo acontece um momento, uma história. Em cada um de nós existem temas para uma história, para um blog, para um livro, para encher uma enstante, uma biblioteca. Não paramos de viver….

Tenho de ligar à assistência em viagem para levar a mota de reboque, ao que chamam de imediato um táxi e um reboque, ficamos os três numa bomba de gasolina, onde parou a minha aventura, à espera de uma resolução pois a minha mota é de 50 de cilindrada e o plafo que dão é só de 75€, ao que o taxista diz com uma gargalhada que isso nem dá para o táxi quanto mais para o reboque.
Passadas duas horas de espera, a assistência em viagem faz uma excepção devido a nunca ter acontecido uma motorizada ter ido tão longe, e dá-me uma assistência como se fosse para um carro. Dão-me um carro de aluguer para chegar até Ovar e levam a mota no reboque. Só que penso melhor e devido a hora 19h30 e ao cansaço que estava sem dormir, pergunto se fosse de comboio no dia seguinte, ao que me informam que me pagam a estadia e o comboio, era isso mesmo que eu queria, curtir uma noite em Lagos.
O taxista deixa-me no centro de Lagos, onde me informa que tenho que percorrer por umas ruelas até a pousada. Ruelas essas apinhadas de estrangeiros que me olham com espanto com tanta carga que levava, uma mochila as costas e duas sacolas em cada braço, cheias com a tenda, saco cama e até o capacete. Não consigo encontrar um único português no emaranhado de cabelos loiros, talvez porque até a pousada fico boquiaberto com as raparigas.
Como se até aqui, na viagem tivessem servido as entradas e agora fosse servido o prato principal.
Vi-as com a pele rosada e sardenta com as mini-saias de ganga enfiada nas suas pernas esguias e com os tops, a esconder metade do seu arredondado e volumoso peito onde espreita um círculo castanho no meio de um triângulo branco, da marca do biquíni. Que ficam espantadas a olhar para mim, que na minha cabeça sonho que estão a olhar para mim por ser moreno, alto, um Lusitano, mas que na realidade estão a olhar por estar cheio de tralhas e com a roupa cheia de manchas de óleo.
Na pousada ainda se encontram mais beldades saídas de um concurso de Misses dos países de Leste. Ao admirar os olhos brilhantes, de uma das mais bonitas que estava sentada no terceiro degrau de uma escadaria em madeira que levava para o seus quartos, nem ouço o recepcionista a dizer que está cheio. Como um acordar frio, pergunto de novo, nem uma cama, nem que seja debaixo das escadas.
Ele indica-me uma Sra. que aluga quartos mesmo do outro lado da rua com preços mais baixos do que a pousada. A Sra. aluga-me um quarto mas que não passa recibo, vai ter de sair do meu bolso, mas também não é assim tão caro 16€, mais 10€ de jóia, para a chave que lhe tenho de devolver até à uma da manhã pois a hora da minha saída, às 05h, não dá para devolver a jóia. Essas contas e todos problemas somem-se da cabeça ao deparar com as hóspedes do meu apartamento, seis estrangeiras que me sorriram com os seus lábios rasgados, que fazem mostrar os seus dentes cor de marfim polido e com uma saudação que era tudo menos Inglês, talvez Belga ou mesmo Alemão. Ia ser um entrave à comunicação. Ao encaminhar-me até ao meu quarto, fico a pensar qual delas estará no meu quarto, ao entrar vejo duas camas vagas e uma que está alugada a um Argentino que cheira mal, com a sua barba de décadas por fazer, que dá mais vigor à sua profissão, homem estátua.
Tomo o gratificante duche que me tira o suor, o pó, e o óleo do corpo do enorme dia que tive. Depois de me secar e vestir, a roupa com o aroma a gasolina, o aroma que me faz lembrar esta viagem, agora com um trago a óleo do motor, vou até a sala tentar comunicar com as minhas colegas do apartamento, ao que o encontro vazio, já saiu tudo, digo eu com desânimo estampado na cara e ao sentar no sofá.
Olho para o telemóvel 21h40, também é a minha hora de procurar um restaurante, entro num, onde um casal estava a deliciar-se com uma espetada de gambas e lulas. Peço o mesmo e para beber uma cerveja “Abadia” tudo ficou por 17€.
Não sei se foi da “Abadia” se é mesmo da noite de Lagos, mais se parecia com o carnaval. As praças repletas de estrangeiras mascaradas, umas vestidas de “Heidi” com os seus cabelos entrelaçados, outras com os seus vistosos tops que mal reparei de que estavam mascaradas, batmans gays, outras com roupa feita de sacos do lixo, e outras que me fartei de dar abraços com cartazes a dizer “ Free hugs” só pode ter sido da cerveja a fermentar na cabeça e andar a roda, e ver imagens destorcidas de cabelos loiros peles rosadas, e a ouvir vozes “ Hi”, “Hello” “Obrigada”, “Fine”, misturadas com as batidas de djambes e musica de baile.
Até ser empurrado para as cavernas de um bar “Joe Garage” onde as foscas imagens que me lembro são de raparigas a dançar em cima dos tampos das mesas, com t-shirts brancas sem nada a impedir que se visse os seus peitos, com os seus pregos tesos que tentam rasgar o tecido, ao serem molhadas pelas potentes pistolas de água que empenhavam os empregados. Uma única “Abadia” fez com que estivesse de sorriso a noite toda e de olhos brilhantes e arregalados. Só sei que esqueci a hora de receber a jóia de 10€ da chave e só apareci no quarto as 03h20 para me deitar por cima dos lençóis sem me preocupar em tirar uma peça de roupa ou os ténis que me ferviam os pés, e tentar perceber se estava a sonhar, ou talvez estava em casa, e esta viagem nunca existiu.
Dei um pulo com o meu colega de quarto a abanar-me e a dizer que o despertador estava farto de tocar. Eram 05h03 meio sonâmbulo só me lembro de passar água pela cara pegar no monte de coisas e ir para a estação, nem dei pelo tempo, nem pelo peso até à estação que estava deserta e só abria daqui a uns 20 minutos, estava lá um brasileiro com cara de poucos amigos e sempre a olhar para mim e eu só pensava que me roube o dinheiro e a maquina, mas que deixe o cartão com as fotos…
A caminho de casa, já dentro do comboio, é que me entrevejo que esta viagem existiu mesmo, recordando as situações nem sei como me desenvencilhei sozinho, nem dei conta que tive sempre só, talvez o meu principal parceiro foi o blog.
Escrever um diário foi uma espécie de companhia imaginária, ir sozinho foi uma grande descoberta, mas não ter com quem fazer um comentário, rir de uma cena, pedir um trocado emprestado, são decididamente detalhes que fazem falta, mas que nunca mais me impedirão de sair por aí conhecendo o mundo.
Kms 973
gásoleo 30.95€
camping 35.42





Nunca é demasiado tarde para encontrar o verdadeiro amor

As pessoas, com um sorriso nos lábios, questionam-me se eu me encontrei. Não respondo, mas sei que no dia da chegada ao abrir a porta do meu quarto vi-me reflectido no espelho, e no fundo dos olhos percebi que sempre estive aqui….
Dedicado a uma butterfly que se transformou em lagarta.











Passado uma semana revejo o caderno já todo escrito com narrativas, a maioria delas muito íntimas que não podem ir para o blog, mas também não podem ser abandonadas, a solução é redigir em L7 ou por outro termo, frases ou palavras com duplo sentido, uma frase que para mim tem um significado, para um transeunte do blog tem outra totalmente diferente, ou com outro estado de espírito.
Dou-te um dica: para perceberes, em algumas frases cor-de-rosa, quando leste compreendes-te de um maneira, agora tenta vir com outro estado de espírito, quando tiveres melancólico ou talvez eufórico, eufórico também não, quando tiveres pensativo relê, vais encontrar uma interpretação inteiramente diferente. Quando perceberes, pode ser que descubras nos textos a "azul".
Talvez encontres algo mais que uma simples viagem.